O Período regencial é visto
tradicionalmente como um período de crise, tendo de um lado a elite moderada do
sudeste pretendendo consolidar seu modelo de independência, e de outro, as
elites regionais e as camadas populares contestando a centralização, com
projetos variados, ou até mesmo sem um projeto político definido. Nesse quadro
encaixa-se a Sabinada, ocorrida na Bahia entre 1837 e 1838.
O texto a seguir procura explicar esse movimente de contestação.
.
O que foi a Sabinada?
Diferente da maioria das revoltas populares ocorridas durante o período
regencial, a Sabinada tinha a princípio um caráter mais emancipatório e contava
com a união das camadas médias da população da Bahia, como cultos, intelectuais
e militares da província. Foi a revolução mais discutida da história do Brasil,
enquanto se processava. Curiosamente, apesar de tanta discussão nos inúmeros
jornais baianos da época, hoje é geralmente desprezada pelos historiadores.
Ganhou este nome, pois seu líder foi o jornalista e médico Francisco Sabino
Álvares da Rocha Vieira.
A Sabinada tinha como objetivo criar uma república independente na Bahia
enquanto o jovem Pedro II não atingisse a maioridade. Os sabinos estavam
profundamente insatisfeitos com as nomeações de autoridades para o governo da
Bahia, realizadas pelo governo regencial, e revoltados com esse governo centralizador.
Tais revoltosos eram contrários às imposições políticas e administrativas
impostas pelo governo regencial. O estopim da revolta ocorreu quando o governo
regencial decretou recrutamento militar obrigatório para combater a Guerra dos
Farrapos, que ocorria no sul do país.
.
O
movimento
Os revoltosos queriam mais autonomia política e defendiam a instituição do federalismo republicano, sistema que daria mais autonomia política e administrativa às províncias. Com o apoio de vários integrantes do exército, os revoltosos foram para as ruas e tomaram vários quartéis militares. No dia 7 de novembro de 1837, tomaram o poder em Salvador (capital). Decretaram a República Bahiense, que, de acordo com os líderes da revolta, deveria durar até D.Pedro II atingir a maioridade. Os revoltosos tomaram o Forte de São Pedro e o Governo Provincial tentou combatê-los enviando tropas do exército. Os soldados representantes do governo, contudo, acabaram aderindo ao movimento dos revoltosos, o que forçou a saída do Presidente da Província e do Comandante das Armas em busca de refúgio.
O movimento foi se expandindo gradativamente e conquistando admiradores. O prédio da Câmara Municipal foi ocupado. Francisco Sabino liderava o movimento pela formação de um estado republicano na Bahia e defendia que seu presidente fosse o advogado Inocêncio da Rocha Galvão, que estava exilado, e que seu vice fosse João Carneiro Rego. Construiu-se toda uma organização administrativa do novo estado republicano e Salvador foi dominada por aproximadamente quatro meses, até março de 1838. Mas o movimento não foi apoiado pela classe mais baixa da sociedade naquele momento, os escravos, e nem mesmo pelas elites. Mantendo-se característico da classe média urbana. Sem contar com um desses dois apoios, o Governo Imperial agiu com rigor. A repressão isolou a cidade de Salvador e o ataque causou a morte de mais de mil pessoas e os rebeldes capturados foram julgados posteriormente pelos latifundiários da região, que abusaram de crueldade. Alguns dos líderes morreram durante o ataque do Governo Imperial, mas Francisco Sabino ficou preso na Fazenda Jacobina, em Mato Grosso, local que era muito distante e pouco habitado, na época. Já outros líderes conseguiram escapar e integraram, mais tarde, a Revolução Farroupilha. Assim, em março de 1838, terminava mais uma rebelião do período regencial.
Apesar do fracasso, a Sabinada baseou-se numa queixa muito generalizada, compartilhada até mesmo pela camada dominante. O próprio Sabino expressou de maneira sintética as queixas, com as quais a maioria parecia estar de acordo. A crítica estava totalmente voltada contra o poder central. E o jornal Novo Diário da Bahia, do próprio Sabino, sustentou em novembro de 1837 que a rebelião era "uma segunda Revolução da Independência". Os grandes proprietários da Bahia não estavam em desacordo com essa opinião. Na medida em que os rebeldes oscilavam entre o federalismo e o separatismo, a república e a monarquia, mas assumindo o papel de governo sem decidir-se pela revolução, não conseguiram empolgar as camadas populares. Contudo, pelas circunstâncias, estavam suficientemente próximos destas últimas para despertarem a antipatia da camada dominante. Tal oscilação revelava a fraqueza do movimento e a razão de sua derrota.
Texto feito por: Ana Beatriz Carvalho
Fontes
Nenhum comentário:
Postar um comentário